Cartinha de Lorena Mendes, de 7 anos. — Foto: Correios
A cartinha de Lorena Mendes, de apenas 7 anos, poderia ser como tantas outras do Papai Noel dos Correios. Poderia. Mas, em vez de pedir uma boneca, uma bicicleta ou roupas novas, a menina de Campo Grande decidiu abrir o coração e escrever o que realmente a aflige: o medo de perder o lar.
Com letra miúda e cheia de esperança, Lorena fez um pedido que tocou profundamente quem leu:
que o Papai Noel ajudasse sua mãe, doente e desempregada, a pagar o aluguel atrasado — uma dívida que já chega a R$ 5 mil — e evitar que as duas sejam despejadas justamente na época em que o espírito natalino parece abraçar o mundo.
“Meu querido Papai Noel… a gente não tem onde ficar”, diz a cartinha, escrita com a sinceridade de quem ainda aprende a ler e escrever, mas já entende perfeitamente o peso das dificuldades da vida.
Uma carta escrita entre o cansaço da mãe e a esperança da filha
A mãe, Fabíola Mendes, enfrenta quase três anos sem renda e sem condições de trabalhar por conta da doença. Ela conta que recebeu o link da campanha de uma prima e pediu para a filha escrever a cartinha naquela noite.
“Eu estava exausta, muito cansada mesmo. Pedi que ela escrevesse e fizesse um desenho. Confiei nela e enviei sem ler, porque eu estava sem meus óculos”, lembra Fabíola.
Nos dias seguintes, veio a ansiedade da menina: “Ela me perguntava o tempo todo se o Papai Noel ia atender ao pedido. Só entendi quando vi a carta na mídia… e percebi que ela tinha contado tudo. O coração aperta”, desabafa.
Uma corrente de solidariedade que reacendeu a fé de uma mãe
O que Lorena não imaginava era que sua cartinha, registrada no Blog Noel, iria atravessar telas de celular, conversar com corações anônimos e inspirar uma onda de solidariedade em Campo Grande.
Vizinhos, desconhecidos e até órgãos públicos se mobilizaram. A carta foi adotada oficialmente pela Receita Federal.
Para Fabíola, cada gesto tem sido como um abraço em meio ao caos.
“Essa experiência renovou a minha fé na humanidade. Eu encontrei apoio em pessoas que nunca vi na vida. É emocionante”, conta, com a voz embargada.
O poder de um pedido simples
Segundo o superintendente dos Correios em Mato Grosso do Sul, Gelson Leonel, histórias como a de Lorena mostram o verdadeiro espírito do projeto.
“Nos sentimos honrados em realizar sonhos. Só neste ano, mais de 7 mil cartas foram atendidas. Isso só acontece porque a sociedade abraça essas crianças”, afirma.
Como adotar uma cartinha e mudar o Natal de uma família
Quem quiser ajudar outras crianças como Lorena pode adotar uma cartinha on-line, pelo Blog do Papai Noel dos Correios, ou presencialmente em qualquer agência do estado.
Os pedidos variam entre brinquedos, materiais escolares, alimentos e itens básicos — desejos simples, mas carregados de urgência.
Presentes devem ser entregues nos locais indicados pelo site e identificados com os dados da carta adotada. No caso das digitais, é preciso fotografar ou escanear a mensagem antes de enviar.






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