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Jean Ferreira cita crimes da ditadura ao falar sobre 61 anos do golpe

por | abr 2, 2025 | Últimas notícias

O vereador Jean Ferreira, líder do PT na Câmara Municipal de Campo Grande, utilizou da fala na sessão desta terça-feira (1 de abril) para falar sobre os 61 anos do golpe que instaurou a ditadura militar-empresarial no Brasil. O parlamentar também aproveitou para ressaltar o posicionamento contrário à anistia para os condenados pela tentativa de golpe no dia 8 de janeiro de 2023.

Jean lembrou que, ao contrário do que apoiadores do golpe de 1964 costumam citar, a ditadura não prendeu, torturou e matou apenas militantes da luta armada, mas também crianças. O vereador relembrou os casos de Carlos Azevedo, torturado aos 5 anos de idade; além de Ana Lídia Tavares e Araceli Sanchez, de 7 e 8 anos de idade, mortas por pessoas ligadas ao regime e cujos casos foram proibidos, pelo então presidente Emílio Médici, de serem investigados.

O petista também citou os casos de corrupção ocorridos durante a ditadura, como o superfaturamento na construção das obras da Transamazônica e das usinas de Itaipu e Angra. Jean ressaltou também a criação de um navio-prisão em Mato Grosso do Sul, no qual estiveram detidos vários vereadores opositores ao regime.

Leia na íntegra:

Bom dia, senhor presidente. Bom dia, nobres colegas vereadoras e vereadores. Bom dia a quem nos acompanha.

Hoje eu utilizo da fala de líder para relembrar que, nesta data, se completam 61 anos da instauração da ditadura militar no Brasil. Um regime nascido no dia da mentira, e que fez da mentira o alicerce de sua existência.

A primeira mentira foi a do assim chamado “perigo comunista”. Setores da classe dominante não suportaram ver os avanços sociais do governo do presidente João Goulart, conhecido como Jango, por acaso um dos maiores pecuaristas do Brasil, que de comunista não tinha nada, mas que, como um VERDADEIRO patriota, trazia um plano de desenvolvimento nacional, baseado em reforma agrária, distribuição de renda, industrialização e investimento na educação.

Em um país onde o analfabetismo atingia quase 40 por cento da população, Jango criou o primeiro plano nacional de alfabetização de adultos. Para auxiliar os trabalhadores nos gastos de final do ano, Jango sancionou o décimo terceiro salário, que existe até hoje. São apenas alguns exemplos das medidas que tanto temiam.

As reformas de base propostas pelo presidente João Goulart beneficiariam, INCLUSIVE, setores militares. Isso porque na época, os militares de baixa patente, chamados praças, não tinham direito a voto. Foi Jango quem propôs que passassem a ter.

É estarrecedor que hoje, passados mais de SESSENTA anos, a mentira do perigo comunista retorne como uma fantasia absurda, propagada por pessoas desonestas e repetida por ignorantes. Comunismo é como a extrema direita classifica qualquer avanço social. Combate ao comunismo foi a mentira usada para impor um regime que matou, torturou, corrompeu e aprofundou as desigualdades.

Vamos, então, à outra mentira da ditadura militar. A de que apenas militantes da luta armada foram presos e mortos. MENTIRA. Um exemplo é Carlos Alexandre Azevedo, levado para a tortura aos cinco – sim, os senhores não ouviram errado, CINCO – anos de idade, que viveu com fobia social e depressão profunda ao longo de sua vida, até se suicidar na vida adulta. Outro são os MAIS DE OITO MIL indígenas ASSASSINADOS, para dar lugar a empreendimentos de amigos do regime, como mostra o Relatório Figueiredo.

Também é estarrecedor saber que Emílio Médici ordenou, em 1973, que os jornais brasileiros não noticiassem qualquer desdobramento sobre os casos de Ana Lídia, morta aos SETE anos de idade; nem de Araceli, morta aos OITO. Meus nobres colegas sabem quem foram os criminosos?

O caso Ana Lídia implicava os playboys Eduardo Ribeiro Resende, filho do líder do partido do regime, a Arena; e Alfredo Buzaid Filho, o Buzaidinho, que era filho do ministro da Justiça, Alfredo Buzaid. Ambos estavam presentes quando a menina foi violentada e morta, junto a um traficante de luxo. Já no caso Araceli, foram acusados o latifundiário Dante Michelini e seu filho Dantinho, além do empresário do ramo imobiliário Paulo Helal, todos ligados ao regime. Médici ajudou seus amigos. Quem falasse do assunto na imprensa seria preso. Os assassinos nunca foram.

Dessa relação espúria entre empresários criminosos, traficantes e a ditadura, vamos para mais uma mentira: a de que não houve corrupção. Pois bem. Grandes obras, como a Transamazônica ou as usinas de Angra e Itaipu, foram realizadas com superfaturamento milionário.

Foi também sob a ditadura militar que o jogo do bicho se profissionalizou, lavando dinheiro de corrupção e financiando o tráfico de drogas e de armas. Militares levaram técnicas de logística, comando e eliminação da concorrência para os chefões da contravenção.

Cabe lembrar que em Mato Grosso do Sul foi instalado um navio prisão que deteve vereadores COMO NÓS, pelo simples fato de exporem a defesa de seus princípios. Para além disso, democratas como Nelson Trad foram cassados e presos.

Neste primeiro de abril, eu venho denunciar as mentiras daqueles que insistem em falsificar a história. Mentiras que persistem hoje, ao dizer que uma tentativa – desta vez, felizmente fracassada – de golpe de Estado teria sido, na verdade, um passeio inofensivo de senhoras com Bíblias.

Não foi passeio, nem foi inofensivo. Foi uma tentativa violenta de retomar um regime com todas as características aqui elencadas, sem permissão para denúncias.

Há muito tempo temos ouvido as palavras de ordem “Ditadura nunca mais” e “Sem anistia”. Eu não apenas as repito, mas também digo: SEM MENTIRAS e ANISTIA NUNCA MAIS. Aproveito para citar Ulysses Guimarães: Conhecemos o caminho maldito. Temos ÓDIO E NOJO à ditadura. Amaldiçoamos a tirania. Sem mais, presidente.

Assessoria de Imprensa do Vereador

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