Cerca de 50 pessoas estão reunidas desde o dia 22 em atividades teóricas e práticas para formação de mirmecólogos
Termina neste sábado, 30, a sétima edição do workshop Formigas do Brasil. Realizado pela UFMS, por meio do Instituto de Biociências, o curso reúne desde o dia 22, cerca de 50 pessoas entre monitores, professores e interessados em ter formação em mirmecologia – estudo das formigas, de praticamente todo o país.
“São participantes de pelo menos 24 instituições diferentes de todo o Brasil. O principal objetivo desse curso é formar, é dar ferramentas para o que a gente chama da nova geração de mirmecólogos. O mirmecólogo é um cientista que se dedica ao estudo das formigas”, explica o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Rodrigo Feitosa, um dos organizadores do curso.
“As formigas formam um grupo extremamente importante, porque estão associadas ao que a gente chama de diversos serviços ecossistêmicos na natureza. Por exemplo, são predadoras e mantêm o controle da população de insetos herbívoros em áreas naturais. Muitas formigas também são dispersoras de sementes de plantas e estão associadas com eles, algumas espécies realizam polinização. Mas também temos as que causam grande problemas agrícolas, como as cortadeiras, além daquelas que são importantes do ponto de vista sanitário, médico, porque podem ter um veneno no ferrão, que causa uma reação alérgica importante, ou por transmitir doenças em ambientes hospitalares, ao transportar bactérias, alguns vírus enquanto elas se deslocam pelos hospitais”, destaca Rodrigo.
De acordo com o professor, o workshop oferece ferramentas para os participantes de diferentes instituições e níveis de formação, já que participam estudantes da graduação e pós-graduação. “A proposta do curso é oferecer ferramentas para que esses estudantes ampliem seus conhecimentos a respeito das formigas, que apliquem isso nos seus projetos, nas suas instituições, e que também possam se tornar independentes para propor projetos e começar uma carreira, uma seguir na sua formação ao longo da carreira acadêmica, tendo com as formigas como modelo de estudo, como base de estudo, por causa da importância desse grupo de insetos”, fala.
Ele destaca também a parte prática do workshop, que não é comum na maioria dos cursos itinerantes. “Metade do curso ocorre em uma área de campo. Aqui, fomos para a Base de Estudos do Pantanal (BEP) da UFMS, onde ficamos imersos em uma área de campo, para ensinar e aprender técnicas de coleta, de captura das formigas na natureza. O curso traz alguns dos maiores especialistas em formigas do Brasil, cientistas consagrados que vem dividir um pouco do seu conhecimento. Além da possibilidade de estreitar laços, fazer contatos, aumentando a rede de colaboração entre pesquisadores de formigas no Brasil”.
“Essa é a primeira vez que o curso acontece em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. A proposta do curso é que a cada dois anos a gente tenha como sede uma instituição que esteja inserida em um dos biomas do país. Já tivemos edições na Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e, neste ano, no Pantanal”, destaca Rodrigo. “Também é muito comum que o curso Formigas do Brasil acabe atraindo estudantes de outros países, que não tem a mesma estrutura, a mesma iniciativa que a gente tem aqui. Desde a primeira edição do curso, já participaram estudantes da Colômbia, do México, do Peru, da Argentina. Então nessa edição do Pantanal, temos duas estudantes que estão fazendo pós-graduação no Brasil, mas são colombianas. Aliás, o Brasil é uma referência internacional na formação de pesquisadores especialistas em formigas. Isso é uma coisa que nos orgulha e permite com que sigamos nas próximas edições tentando tornar o curso cada vez maior e mais importante”, conta.
Rodrigo destaca que são cerca de 15 mil espécies de formigas conhecidas atualmente no mundo. “Cabe lembrar que a atividade de escavar terra pra fazer ninho é muito importante porque elas incorporam matéria orgânica no solo, isso aumenta a fertilidade do solo, promovem o crescimento e a densidade de plantas nas regiões onde elas se estabelecem”, fala.
Visita a BEP e exposição no Inbio
Entre as atividades do Workshop Formigas do Brasil estiveram uma visita de quatro dias à BEP da UFMS e uma exposição de fotografias que é realizada hoje e amanhã, 29, no Inbio, na Cidade Universitária. “São 40 fotografias expostas no corredor do Inbio, em frente ao Laboratório de Botânica, mais precisamente”, diz o professor do Inbio e um dos responsáveis pela organização, Paulo Robson.
As fotos são registros feitos por Paulo Robson e Espiridião Santos Neto. “Sou doutor em zoologia e muitas dessas fotos foram feitas em uma visita que fiz à Base de Estudo do Pantanal da UFMS, em 2023, quando aproveitei para registrar algumas formigas que coloquei lá. Algumas bastante interessantes e outras eu coloquei para representar as formigas que ocorrem no Pantanal”, explica Espiridião. “Cada um dos participantes do Workshop vai levar uma foto impressa em formato 30 por 40, algumas identificadas cientificamente falando”, destaca Paulo Robson.
Em relação à visita à BEP da UFMS, Paulo explica que os praticantes foram divididos em grupos menores para maximizar as atividades práticas. A estudante de pós-doutorado em Ciência, Inovação e Tecnologia para a Amazônia, na Universidade Federal do Acre (Ufac), Luane Fontinelli ficou responsável por um dos grupos. Ela visitou pela primeira vez o Pantanal. “Foi uma experiência única, em um lugar maravilhoso. O nosso grupo de estudantes desenvolvem estudos sobre formigas em diversos aspectos, como comportamento, diversidade. Pudemos ver o quanto de espécies de formigas tem no Pantanal e avaliar o impacto de atividades humanas. Durante os dias na Base, conversamos e trocamos ideias sobre os estudos, como são os trabalhos desenvolvidos pelos participantes, quais as técnicas de coleta e o que conseguimos fazer com os dados obtidos”, detalha Luane. “Assim como eu, muitas pessoas estavam lá pela primeira vez. Então foi muito prazeroso conversar sobre formigas em um lugar tão bonito, em um bioma tão diverso”, ressalta a pós-doutoranda.
Durante a estada do grupo na BEP, os professores da UFMS Geraldo Alves Damaceno Junior e Camila Aoki. Damaceno fez uma apresentação do bioma Pantanal: biodiversidade, aspectos biogeográficos, clima, regime hidrológico, cultura, entre outros. Já Camila fez uma revisão dos estudos mirmecológicos com ênfase no Pantanal e entorno. Além das palestras, os grupos foram para o campo, para fazer coleta científica de formigas. “Fomos em capões fazer trabalho de coleta de formigas de valor científico e encontramos uma espécie de formiga que até hoje não era citada para Mato Grosso do Sul”, diz Paulo Robson. Capões são ilhas de vegetação arbustivo-arbórea presentes no Pantanal, que se sobressaem na paisagem.
Esforço interinstitucional
O Workshop conta com o apoio da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado (Fundect) e Governo do Estado. Também estão envolvidas na organização e são apoiadoras a UFPR, a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, a Ufac, a Universidade Federal de Lavras, a Capes, o Governo Federal e o Câmpus de Ponta Porã do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul – que cedeu o ônibus para a viagem até a BEP da UFMS.
Texto: Vanessa Amin
Fotos: Paulo Róbson, Espiridião Neto e Murilo Camargo
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