Indicado pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa pelo Oscar 2025 na categoria de melhor filme internacional, Ainda Estou Aqui (2024) teve sua estreia mundial no Festival de Veneza deste ano, onde recebeu o prêmio de melhor roteiro. Baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, o filme dirigido por Walter Salles relembra o drama de uma família dilacerada pela ditadura militar, apresentando uma interpretação soberba de Fernanda Torres como uma determinada mãe-coragem.
Ainda Estou Aqui começa em tom solar, mostrando o cotidiano de classe média confortável da família do ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello) em sua casa perto da praia na zona sul do Rio de Janeiro, no começo dos anos 1970. Pai de cinco filhos ao lado da esposa Eunice (Torres), o engenheiro e opositor do regime autoritário imposto no Brasil desde 1964 é abordado um dia em casa por agentes policiais que o levam com a justificativa de ouvir seu depoimento.
Rubens Paiva nunca mais voltaria para seu lar. Os dias passam sem notícias dele, deixando a família aflita ⎯ especialmente Eunice, que também passa vários dias presa sendo interrogada sobre as ligações do marido com militantes de esquerda. Libertada, a matriarca segue incansável na procura de informações sobre o paradeiro de Rubens Paiva e protestando contra a arbitrariedade de sua prisão ⎯ que não é reconhecida pelas autoridades ⎯, ao mesmo tempo em que luta para garantir a estabilidade emocional e financeira da numerosa família.
Um dos acertos do roteiro, da fotografia e da direção de arte de Ainda Estou Aqui é captar o singular e contraditório ar do tempo no Brasil dos anos de chumbo, em particular no Rio: na década de 1970, a pródiga luminosidade da boa vida carioca ⎯ exibida na tela em cenas de filmes caseiros de cores vibrantes registrados pelos integrantes da família ⎯ coexistia com os silêncios e reticências de quem encontrava em casa o refúgio para ameaças veladas, mas temíveis.
O bom elenco jovem inclui as atrizes Valentina Herszage, Barbara Luz e Luiza Kosovski, interpretando três das filhas do casal Rubens Paiva. Já a veterana Fernanda Montenegro faz uma participação tão silente quanto eloquente no final do filme ⎯ repetindo 26 anos depois a parceria com Walter Salles em Central do Brasil (1998), atuação lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz.
A grande estrela de Ainda Estou Aqui, no entanto, é a filha da Fernandona: interpretando o papel de sua vida, pelo menos até agora, Fernanda Torres comove como a esposa e mãe que luta contra um sistema arbitrário e perverso cujas trevas cobriram o país durante 21 anos.
Ainda Estou Aqui: * * * * *
COTAÇÕES
* * * * * ótimo * * * * muito bom * * * bom * * regular * ruim
Assista ao trailer de Ainda Estou Aqui:
Por Roger Lerina
Foto: Alile Dara Onawale/Divulgação
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