O aquecimento do planeta é uma realidade, e tem acontecido cada vez mais rápido. O ano de 2024 foi o mais quente registrado na Terra, com um indicador preocupante. A temperatura média global aumentou 1,6ºC em relação aos níveis pré-industriais, ultrapassando o limite de 1,5ºC, considerado “seguro” por especialistas.
O gradual aumento das temperaturas não é uma novidade, já que ano após ano, há uma década, recordes de temperatura têm sido quebrados. Por exemplo, o ano de 2023 havia sido o ano mais quente até então.
Contudo, o aumento ultrapassou o patamar considerado de segurança. Em 2015, no Acordo de Paris, o número de 1,5°C de elevação das temperaturas em relação aos níveis pré-industriais foi estabelecido como “limite seguro” das mudanças climáticas.
Esse patamar foi estabelecido porque se o índice atingisse a marca de 2°C, o que estava sendo previsto com o avanço das emissões, a Terra estaria em risco. Porém, para que se conseguisse manter o patamar de 1,5°C, seria preciso conter o avanço das emissões de gases do efeito estufa, que provocam o aquecimento global.
Especialistas afirmam que atingir a marca de 1,6°C pode ser um indício de que o mundo está mais perto dos 2°C. Há uma década, pesquisadores projetaram que quando o aumento ultrapassasse o “limite seguro”, chuvas extremas, secas e mortes aconteceriam em diversas partes do planeta, o que foi registrado em 2024.
Entre exemplos que ocorreram estão as chuvas no Rio Grande do Sul e na Espanha, com as piores tempestades da história, a pior temporada de furacões da história dos Estados Unidos e chuvas na África, que mataram centenas de pessoas e atingiram até o deserto.
Por outro lado, secas extremas atingiram regiões como o Norte do Brasil, associadas a incêndios florestais de grandes proporções, que o país também registrou, e que deixaram estados cobertos de fumaça por meses.
Segundo especialistas em clima, esse cenário pode se intensificar se a Terra continuar no mesmo ritmo de aquecimento nos próximos anos. O cálculo de aquecimento, contudo, é uma média das temperaturas registradas no mundo todo, que tem lugares mais quentes que outros. Países tropicais, como o Brasil, são os mais vulneráveis. Há locais no país que ficaram 2,2°C mais quentes nos últimos 80 anos.
— A indústria e os países estão fracassando no compromisso de reduzir as emissões e, agora, superamos um marco limite. Se a gente não reduzir rapidamente, vamos bater os 2°C em breve e isso vai ser um suicídio ecológico — pontua Carlos Nobre, climatologista e referência mundial em estudos sobre mudanças climáticas.
O que significa Terra estar 1,6°C mais quente?
O aumento da temperatura global vem sendo discutido por cientistas há anos, por trazer risco à saúde humana, à natureza, e até à existência de alguns países. É o caso de algumas Ilhas no Pacífico que podem sumir com o aumento do nível das águas – consequência do aquecimento global.
Pesquisas feitas na época do Acordo de Paris, em 2015, indicavam que era preciso reduzir as emissões para evitar que o planeta chegasse aos 2°C de aquecimento. Era esperado, contudo, que esse valor fosse atingido em décadas.
Porém, na prática, o acordo trouxe poucas mudanças efetivas na transição energética, para que o mundo usasse menos combustíveis fósseis em sua produção. As emissões continuam a subir, e com isso o aquecimento global segue avançando.
Na época do acordo, 2015 tinha sido o ano mais quente da Terra, e a temperatura média global tinha aumentado em 0,90°C. O número já era alarmante, mas os anos seguintes foram de recordes atrás de recordes.
Em 2021, o aumento da temperatura média global foi de 1,11°C em relação aos níveis pré-industriais. Em 2022 esse número foi para 1,15°C, e passou para 1,48°C em 2023.
No último ano, 2024, chegou 1,6°C, no que a Organização das Nações Unidas (ONU) classificou como “uma década de calor mortal”. O calor atingido está cada dia mais perto de níveis irreversíveis.
— O que estamos observando é que estamos ultrapassando todos os limites e isso significa que podemos já estar no caminho dos 2°C, o que não pode acontecer. Isso significa um colapso, principalmente para países tropicais como o nosso — afirma Paulo Artaxo, pesquisador e membro do IPCC, o painel sobre mudanças climáticas da ONU.
Por Nathalia Fontana – NSC Total
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