Warner Bros. Discovery capacita jovens talentos negros para criar série de documentários sobre a beleza e os desafios de suas comunidades.
Dançarinos de brega funk da periferia de Recife usam da criatividade para superar desafios da profissionalização. Na Rocinha, três moradores (um guia turístico, uma ativista e um agitador cultural) falam quem são os mais beneficiados do turismo na favela carioca — spoiler, não são eles. Na zona leste de São Paulo, a história de um time de futebol de várzea é plano de fundo para abordar como populações da periferia perdem seus territórios devido ao desenvolvimento desordenado da cidade.
Essas são as sinopses dos três documentários que fazem parte da primeira temporada de Narrativas Negras Não Contadas, recém lançada pela Warner Bros Discovery (WBD) e disponível na plataforma de streaming Max.
Com 15 minutos cada, as três histórias reais, de três cidades do Brasil, têm em comum a direção de jovens talentos negros do cinema nacional. São eles Will Souza (Brega Funk, Ritmo e Sobrevivência), Robson Dias (Favela Turística) e Laís Ribeiro (Primavera Só Floreia em Terra Fértil).
“São obras que ecoam vozes da periferia e mostram a beleza e os desafios de suas comunidades. É impossível não se emocionar com histórias tão autênticas e necessárias”Niarchos Pabalis, diretor de Diversidade, Equidade e Inclusão América Latina da WBD
Os filmes de Narrativas Negras Não Contadas são resultados do programa homônimo de capacitação e aceleração de carreiras de diretores e roteiristas negros, lançado pela WBD no Brasil em 2023.
Com foco em produções de não ficção, o programa é uma ação da WBD Access, plataforma global da empresa com foco em Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI). A versão brasileira é a primeiro fora do Reino Unido, onde já foram realizadas duas edições.
REPARAÇÃO HISTÓRICA NO AUDIOVISUAL
De acordo com Maristela Zago, gerente de DEI da WBD, contar com profissionais pertencentes às comunidades retratadas nas histórias tem sido uma escolha deliberada da empresa. E a decisão exigiu investimentos e busca ativa de novos profissionais.
Por dois meses, 10 diretores e roteiristas negros em ascensão no audiovisual brasileiro participaram de um ciclo remunerado de capacitação e mentorias. Na jornada, tiveram o apoio de profissionais renomados no mercado, como Chica Andrade, Emílio Domingues e Everlane Moraes.
Chica, por exemplo, é diretora de Estamos Todos Aqui. Lançado em 2017 e premiado nacional e internacionalmente, o filme tem como protagonista a artista Rosa Luz.
Narrativas Negras Não Contadas é um exemplo de ação afirmativa: políticas de seleção e capacitação que visam promover a igualdade de oportunidades para pessoas de grupos minorizados. Porém, no caso da empresa de mídia, o programa tem contornos ainda mais relevantes.
Ao olhar para o passado, descobrimos que, em 1930, as grandes produtoras de Hollywood adotaram um código oficial (Código Hays) que proibia papéis de protagonismo para atores negros. O fato fez com que a indústria cinematográfica americana se tornasse predominantemente branca.
O código deixou de ser usado em 1968, mas os efeitos da segregação histórica são sentidos até hoje. No Oscar de 2024, por exemplo, a representatividade de profissionais negros em categorias de destaque ficou abaixo de 3%.
De acordo com Maristela, anos antes de criar projetos para o público externo, a Warner Bros. Discovery investiu em contratação afirmativa e criou grupos de afinidades para que as pessoas se sentissem ouvidas e acolhidas.
Nesse sentido, para contratações afirmativas darem certo, é necessário oferecer um espaço seguro e acolhedor aos profissionais que chegam na empresa.
Também é fundamental o respeito às individualidades para não reproduzir estereótipos sociais. Por exemplo, é comum associar homens gays a extroversão e alegria. Há aqueles que, de fato, são mais extrovertidos, porém há outros que não são — e tudo bem.
“Capacitamos as lideranças da empresa e criamos políticas rígidas de combate ao assédio e discriminação”Maristela Zago, gerente de DEI América Latina da WBD
Outro recurso que a Warner Bros Discovery utiliza é a pesquisa focus group. Muito comum no marketing, o focus group verifica quais são as reações das pessoas em relação a determinado assunto ou produto. Na WBD, a pesquisa é feita com os próprios funcionários, participantes dos grupos de afinidade da empresa, que leem roteiros e assistem vídeos ainda durante a produção.
As diferentes perspectivas formam uma inteligência coletiva capaz de evitar a reprodução de vieses inconscientes nas obras. Assim, há um crivo focado em diversidade antes das séries e filmes chegarem aos consumidores.
Imagens: divulgação.
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